O beijo da morte
Quando a morte vier ao meu encontro,
vou beijá-la na boca espavorido.
Vou doar-me inteiro e, possuído,
provarei que há muito estou pronto.
Eu vou conter o ímpeto do pranto,
tocar seus seios murchos, combalidos...
até, que quase morto, em um gemido,
entregarei min'alma aos seus encantos.
E doarei também os meus quebrantos,
a minha velha figa, os meus santos
e todos os penhores que eram meus.
E ao fim do suspiro, já cansado,
quando o corpo se for, abandonado,
terei tempo de sobra pro adeus.
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Grato ao amigo Solano pela interação
TANAFOBIA
Solano Brum
"-Deus que livre dessa sua morte!"
Não a quero nem preparado estou...
Saio daqui, talvez, vá pro Polo Norte;
Nem deixarei recados pra onde vou!
Pobre de mim que nada tenho
-Nem cachimbo pra deixar pra ela!
Toda riqueza no prego do empenho
Só do sinto sobrou-me sua fivela,
Que apertou meu ventre esfomeado,
Muitas vezes estando eu na solidão
Roncou deveras pelo pouco que comeu!
Não tenho nada, pobre e desgraçado
Quero distância dessa horrível aparição
Para nunca, nunca ter que lhe dizer adeus.