HIPOCONDRIA

Sofro mais! Afirmei e mostrei-lhe a chaga.

"Não!"; Disse-me a exibir seu corpo exangue.

Retruquei, com a boca a jorrar sangue,

Mas ele, rindo, uma fratura afaga.

Atirei-lhe aos pés meus dentes, uns cacos.

Não se conteve e trouxe-me os negativos

Dos pulmões em que, pela doença já cativos,

Restavam apenas movimentos fracos.

Citei-lhe os males meus que a Medicina

Não cura nem com tudo o que ensina,

Mas o rival julgou pequena a minha dor.

E, para mostrar que seu pesar não tem parelha,

Trouxe no dedo a sua própria orelha,

Previamente assada no indicador.

Gerson Silvestre
Enviado por Gerson Silvestre em 29/03/2011
Reeditado em 23/12/2016
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