Mãos Entrelaçadas

Mãos sedentas de afeto a afagar o vazio do leito.
Tateiam na longa madrugada  o  amor desfeito.
Noites intermináveis singradas nos desencontros,
Recolhem as mortas folhas encharcadas no pranto.

Caminhos  áridos e sinuosos  no silêncio visitados,
Vida fosca a percorrer os estreitos dos abandonados.
Algodoal revolto, espectro apático - rotineira insônia,
Granizos  cinzas do medo  impregnam os cadeados.

Vez ou outra nas janelas o eco agourento das corujas,
Mistura-se com o som  do contador de todos os tempos.
Espreitam sem dó a vazia morada de tantos lamentos.

Cansada a alma espera a inviável visita da esperança,
Luzes súbitas espocam deslumbrantes no frio cenário.
Mãos ternamente entrelaçadas abandonam o calvário.
                                                                   (Ana Stoppa)


Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 29/03/2011
Reeditado em 29/03/2011
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