DELETAR A VIDA
DELETAR A VIDA
Deveria – mas não vou – deletar a vida;
Deus dá saúde; a natureza enruga a face
E a cronometria da idade é o desenlace,
Finda a validade, dispensa a despedida.
Eis aí criado o nosso supérfluo impasse
Da vida só se sente um terço aquecida
Da chama que queima, que arde, da alma fluída
O mundo social fez que o velho calasse.
O social resolve que é pura ironia;
que amor de idosos só existe na poesia;
promulga a cultura que idoso é dissabor.
Não sabe o jovem ainda que a idade é reforço;
soma experiência, embora lhe morda o torço;
Que a idade é adubo na terra da alma e do amor.
Afonso Martini
240311