*** PORCELANA ***

Este soneto é para homenagear todas as negras descendentes de escravos do Maranhão, em especial a Dona Felícia, uma negra de oitenta e tantos anos, que trabalha no Mercado Central de São Luís e por quem tenho uma grande admiração e amizade.

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Cantinelas, ouvi, nas madrugadas,

Nas grutas das cafuas, nas senzalas,

Tanto gemer das redes, estopadas,

O canto d’uma escrava, magoada...

Doía-me sua voz de esquecimento,

Soando nas varandas sombreadas;

Um canto esmiuçado nas calçadas,

Pelos fundos da quinta, pelo vento...

No seu canto, tão grave, ela chorava,

As saudades das sendas africanas;

O perfume da terra abençoada...

Dormi ouvindo o quanto ela cantava;

A dor vinda da alma maltratada,

Mas, firme, parecendo porcelana...

Aarão Filho.

São Luís-ma, 21/03/2011

Aarão Filho
Enviado por Aarão Filho em 21/03/2011
Reeditado em 01/05/2011
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