RELÓGIO

Tu, que as horas marcas em louco desatino,

A mostrar ser menor o tempo que me resta,

Fazes-me lembrar que, já entreaberta,

Aos poucos se escancara a porta do destino.

Tu, fiel escravo da morte (que não falta),

Imprimes mau agouro aos ambientes,

E, sendo máquina, o findar não sentes

Desta existência que me é tão grata.

Tu, regente da terrível Orquestra,

Ignoras que efeito duplo presta

Esse tempo produzido em tua voragem.

Não vês que o tempo feito, a cada hora,

É o mesmo que, impiedoso, te devora,

Feito ácido a roer-te a engrenagem?

Gerson Silvestre
Enviado por Gerson Silvestre em 20/03/2011
Reeditado em 21/11/2012
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