RELÓGIO
Tu, que as horas marcas em louco desatino,
A mostrar ser menor o tempo que me resta,
Fazes-me lembrar que, já entreaberta,
Aos poucos se escancara a porta do destino.
Tu, fiel escravo da morte (que não falta),
Imprimes mau agouro aos ambientes,
E, sendo máquina, o findar não sentes
Desta existência que me é tão grata.
Tu, regente da terrível Orquestra,
Ignoras que efeito duplo presta
Esse tempo produzido em tua voragem.
Não vês que o tempo feito, a cada hora,
É o mesmo que, impiedoso, te devora,
Feito ácido a roer-te a engrenagem?