Contraponto com Bilac
Ser poeta não é ouvir estrela,
mas entendê-la, tão completamente,
a ponto de sentir que ela sente,
que realmente possam entendê-la.
Pois que estrelas sabem, que a gente
(seres viventes, súditos da lua)
vive de cada sonho que cultua,
tornando esse sonho permanente.
E quando um poeta penitente,
humano, por um simples acidente,
diz que ouve as estrelas noite e dia...
decerto finge, nunca ouve nada!
Finge ouvir a estrela imaginada,
que nem mesmo Bilac ouviria.
II
Sim! Um poeta pode ouvir estrelas
e entendê-las, tão profundamente,
como se uma estrela fosse gente
e gente também fosse uma estrela.
Poetas são estrelas delinquentes,
vagando pelo céu, no firmamento,
à espera ansiosa do momento
de se fazer ouvir como vivente
com alma, coração e corpo, e mente...
que ama, e fala, e cala, e ouve, e sente,
a dor de uma estrela em agonia.
E ao ouvi-la então pode entendê-la,
pois pra falar a língua de uma estrela,
é só dar vez e voz à poesia.
III
Se a um poeta é dado ouvir estrelas,
minha surdez matou a poesia!
Nem mesmo ouço minha estrela guia
como haverei, então, de ouvir estrelas!?
Como Beethoven, em uma sinfonia!?
Como Bilac à sombra de um soneto!?
Ou como eu, com todos os defeitos
que no meu peito passam noite e dia.
Não sei se ouvir estrelas, minha gente,
é uma bênção mesmo ou, de repente,
um dom que não nasceu dentro de mim.
Mas se alguém ouvir este soneto,
que sejas tu, poeta, e te prometo:
minha surdez também chegou ao fim.
IV
Ouvi teu grito rouco, em um soneto,
rimar, "ouvir estrelas", com castigo.
Ouvi a voz de quem procura abrigo,
então abri as portas do meu peito.
Pois nem um só poeta nasce feito
nem poesia é prenhe de emoção,
se não se pode ouvir no coração
pois, pra ouvir, de fato, ele foi feito.
Saber ouvir é ter aquele jeito
de ouvir e escutar, sem preconceito,
a voz que já não sabe aonde ir...
Que seja a poesia duma estrela!
Ainda que a visão não possa vê-la,
a alma, certamente, pode ouvir.
Ser poeta não é ouvir estrela,
mas entendê-la, tão completamente,
a ponto de sentir que ela sente,
que realmente possam entendê-la.
Pois que estrelas sabem, que a gente
(seres viventes, súditos da lua)
vive de cada sonho que cultua,
tornando esse sonho permanente.
E quando um poeta penitente,
humano, por um simples acidente,
diz que ouve as estrelas noite e dia...
decerto finge, nunca ouve nada!
Finge ouvir a estrela imaginada,
que nem mesmo Bilac ouviria.
II
Sim! Um poeta pode ouvir estrelas
e entendê-las, tão profundamente,
como se uma estrela fosse gente
e gente também fosse uma estrela.
Poetas são estrelas delinquentes,
vagando pelo céu, no firmamento,
à espera ansiosa do momento
de se fazer ouvir como vivente
com alma, coração e corpo, e mente...
que ama, e fala, e cala, e ouve, e sente,
a dor de uma estrela em agonia.
E ao ouvi-la então pode entendê-la,
pois pra falar a língua de uma estrela,
é só dar vez e voz à poesia.
III
Se a um poeta é dado ouvir estrelas,
minha surdez matou a poesia!
Nem mesmo ouço minha estrela guia
como haverei, então, de ouvir estrelas!?
Como Beethoven, em uma sinfonia!?
Como Bilac à sombra de um soneto!?
Ou como eu, com todos os defeitos
que no meu peito passam noite e dia.
Não sei se ouvir estrelas, minha gente,
é uma bênção mesmo ou, de repente,
um dom que não nasceu dentro de mim.
Mas se alguém ouvir este soneto,
que sejas tu, poeta, e te prometo:
minha surdez também chegou ao fim.
IV
Ouvi teu grito rouco, em um soneto,
rimar, "ouvir estrelas", com castigo.
Ouvi a voz de quem procura abrigo,
então abri as portas do meu peito.
Pois nem um só poeta nasce feito
nem poesia é prenhe de emoção,
se não se pode ouvir no coração
pois, pra ouvir, de fato, ele foi feito.
Saber ouvir é ter aquele jeito
de ouvir e escutar, sem preconceito,
a voz que já não sabe aonde ir...
Que seja a poesia duma estrela!
Ainda que a visão não possa vê-la,
a alma, certamente, pode ouvir.