VOZES MUDAS & PLUS

VOZES MUDAS

outra noite Esperei: noite tão fria,

quente por fora, fria de Minh'alma,

serena e cristalina em fria Calma,

fria de som e de emoção Vazia.

outra noite esperei: Sabor tão quente,

nas Têmporas o ardor, quente desejo,

quente de Ti, Ausente do Teu beijo,

tão virginal de Teu calor recente...

tépida apenas de um Calor antigo,

morna em lembrança, quente do Perigo

que Teu olhar no meu depositou...

morna de aroma e Quente de rocio,

meu coração Gelado pelo frio

Teu coração de Ardor acalentou...

RENÚNCIA

Sonho verde de aromas marchetado,

Estertor peregrino e marginal,

Desejo apenas de esplendor fatal

De quem ao ver-te fica arrebatado...

E nem sequer pelo nome te conhece,

Mas apenas possuiu-te um só momento

De sabor capitoso, qual o vento

Carrega odores, mas amor esquece...

A te envolver na flama deste olhar,

Num abraço gentil, mas apertado,

Que o corpo aflora e a alma violenta...

Suspira o corpo, instantes a sonhar,

O coração, porém, fica agitado

E com o aroma apenas... se contenta.

RESGATE

Meu coração, que estava tão cansado,

Somente de te ler, já se assanhou!...

Ficou pulando, em gesto deliciado,

Para te ver contente se apressou...

Meu coração, que estava tão descrente

De nesta terra achar consolação

Modificou-se assim, tão de repente,

Num subitâneo idear desta emoção.

De mim tiraste o sonho que jazia,

Pois despertando a luz que já tremia,

Meus olhos reabriste à luz primeira,

Deixando ideal antigo e tão conforme

Quase explodindo de um desejo enorme

De tudo usufruir da vida inteira...

REVENGE

Ah, for a long kiss my mouth to drench!

From yours, my soul to suck, a blink achieve.

How much would I pay for this and give,

My thirst and smother to likewise quench!

Ah, what a perfume that inside me blows!

The heat of your body, in such an instant,

Throbbing from evil times of wait expectant,

Of pallor for sorrow while deaf fate aglows!

'Tis like your life, in that very moment,

Flooded into me, all the while mine

Drained unto you, in that passion slow,

A sweet delight is there in such a torment,

As life bursts and death shows me the incline,

While minds so emptied into transfusion go.

as a reminder, the original in Portuguese:

REVANCHE

Ah, por um beijo longo de tua boca!

Que me sugasse a alma, num relance,

Que não daria eu por esse alcance

Que tal sofreguidão assim sufoca!

Ah, que perfume dentro em mim espoca!

O calor de teu corpo, nesse instante,

Do tempo mau da espera palpitante,

Da palidez da pena e a sorte mouca!

É como se tua vida, em tal momento

Fluísse para mim, enquanto a minha

Escorre para ti, lenta paixão;

Uma delícia doce, esse tormento:

A vida explode e a morte se avizinha,

Enquanto a mente esvai-se em transfusão.

A DAMA DO XALE

De versos enfadonhos já cansei-me:

Eu quero vida! Os versos só me enleiam

e mesmo quando o meu candor me peiam

aos versos digo: Já não mais prendei-me!...

Nesta minha musa estranha e tão arfante

quero inspirar-me de um ardor fogoso,

queimar-me o corpo em beijo doloroso,

a tal ponto que a mente, delirante,

se entregue na amplidão deste martírio.

E deixe de almejar um vão delírio

por um calor que tanto mais suplica,

quanto o mesmo calor que em mim se agita

se apaga na voraz chama que indica

que é o lúbrico olhar meu que a faz bonita.

HÓSPEDE

Então, ainda acreditas ser preciso

combinar previamente a tua visita?

Pois teu chegar meu coração concita

a um vigor novo de sonho, em que reviso

gota por gota, os frascos da memória,

os tempos vãos, angústias do semblante,

os tempos bons tão raros, de anelante

expectação de anil e ideal de glória...

Os tempos que são teus há tantos meses,

prouvera-me que fossem tantos anos

que realmente a ti só pertencessem...

Que o coração é teu, por tantas vezes,

quantas as muitas de meus desenganos,

antes que a ti somente percebessem...

SALTO MORTAL

Muito já foi escrito sobre os gatos.

Apesar de peludos, sentem frio:

Algumas vezes, mesmo em pleno estio,

Eles se escondem, num par de sapatos...

Domaram as mulheres, os bichanos,

E nada dão em troca da comida,

Do afeto, do repouso e da guarida

Que sempre receberam dos humanos.

São animais espertos, os felinos:

Recusam aceitar o treinamento,

Em troca de carinho e até de açoite,

Pois sabem lhes darão seu alimento

Pelos "saltos de veludo", que aos meninos

Encantam, ao fluírem "para dentro da noite"...

FIO ¾ 15 AGO 79

Que raiva eu tenho desse telefone!

A toda hora toca e me interrompe,

Meus sonhos quebra, o devaneio rompe

E meu trabalho obriga que abandone.

Às vezes, de permeio à madrugada,

Vozes retinem, em vezo de pirraça,

Outras de dia, perfuram como traça,

Meu tempo apeneirando em quase nada.

Quando eu quisera a outrem contactar,

O fone faz-se mudo, num zombar,

Solerte de ardiloso, que me irrita!...

E se de alguém a voz quero escutar,

O telefone insiste em se calar

E, silencioso, o coração me agita...

TRUST

no more relationship... said She,

you know my head a Mess has always been,

but now that my Route I have seen,

I shall decide myself Which will Be

my Future all along the days to come,

advice is hurtful, don’t care to change,

stop running me, I want to range

my errors and mistakes… and then some.

how easy it is for You to turn against,

after having been led by so many,

the only one that You’ve found amongst

to give You all and never ask for any.

perhaps knowing that, in needing a share,

the others will deny, but he will be there.

REALIZATION

i'm putting my feelings on abbeyance:

felt that your lovers had prepared you to me;

now i'm being forced by events to see

that your behavior, so wrapt with hindrance

heralds not a blithely happenstance

but else a warning springs clear from thee

that all my pain to change you, to glee

your heart anew, the only comeuppance

that will bring to me is that of a developer,

and that your wavering, all that strange sort

of love poured and withdrawn in bother

are but the selfish whims of a joker...

i strove in vain, because for all my effort

only prepared you for the enjoyment of another.

ESCOLHA

Os homens se revelam nos animais que amam,

Se lhes servem de amigos, se apenas utilizam

Sua carne, seu perfume, seus pêlos, se estilizam

Uma gaiola d’oiro aos pássaros que escolhem.

E a mulher se revela naqueles que reclamam

Mais atenção e afeto: são elas as mascotes

Dos gatos, por exemplo; e distribuem seus dotes,

Quais se crianças fossem, a quantos lhes antolhem.

Considerando tudo, sermos mascote obrigam

Os caprichos dos deuses: nos punem e castigam,

Sem nos dizer porquê; e igual, nos dão amor...

Se devo ser mascote, prefiro outro destino:

Entrego-me à mulher, no puro desatino

De terminar meus dias mascote de uma flor!...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 19/03/2011
Reeditado em 20/03/2011
Código do texto: T2856954
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