O PECADOR
“Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?”
(Fernando Pessoa,
no heterônimo Álvaro de Campos)
O nublado, essas brumas nos meus dias...
Este sangue que brota em minhas sendas...
E a armadura de plúmbeas vilanias
que me espreme e sufoca em vãs contendas...
Eu podia ser feito sem emendas
e brilhar em coragens luzidias,
ser, qual todos, virtudes, oferendas
das bondades do céu, sem covardias.
Mas sou falho, não tenho a perfeição
das pessoas, sou só na multidão
de santinhos em laços, em arranjo.
Eu queria ajustar-me, com apuro,
não errar; de mãos postas e, tão puro,
aprender, com os outros, a ser anjo.