O PECADOR

“Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?”

(Fernando Pessoa,

no heterônimo Álvaro de Campos)

O nublado, essas brumas nos meus dias...

Este sangue que brota em minhas sendas...

E a armadura de plúmbeas vilanias

que me espreme e sufoca em vãs contendas...

Eu podia ser feito sem emendas

e brilhar em coragens luzidias,

ser, qual todos, virtudes, oferendas

das bondades do céu, sem covardias.

Mas sou falho, não tenho a perfeição

das pessoas, sou só na multidão

de santinhos em laços, em arranjo.

Eu queria ajustar-me, com apuro,

não errar; de mãos postas e, tão puro,

aprender, com os outros, a ser anjo.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 10/03/2011
Reeditado em 10/03/2011
Código do texto: T2838717
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