O deus dos afogados
Pelos porões do mar lambendo as quilhas
E as proas dos escombros de naufrágios
cristalizam corais feitos presságios
de nefandas e torpes armadilhas.
O mar abraça o vão de grandes nadas
e em vísceras abertas, descarnadas,
vai-se purgando nos dilacerados
humores do seu deus dos afogados.
E o corpo desse vago deus sem nome
que ilude a um qualquer porto seguro
e inventou o pecado, a peste e a fome
e rescende a enxofre e a monturo,
quero enterrá-lo sem escalpo e nu,
bem no fundo das entranhas do vudu.