O deus dos afogados

Pelos porões do mar lambendo as quilhas

E as proas dos escombros de naufrágios

cristalizam corais feitos presságios

de nefandas e torpes armadilhas.

O mar abraça o vão de grandes nadas

e em vísceras abertas, descarnadas,

vai-se purgando nos dilacerados

humores do seu deus dos afogados.

E o corpo desse vago deus sem nome

que ilude a um qualquer porto seguro

e inventou o pecado, a peste e a fome

e rescende a enxofre e a monturo,

quero enterrá-lo sem escalpo e nu,

bem no fundo das entranhas do vudu.

luca barbabianca
Enviado por luca barbabianca em 09/03/2011
Reeditado em 21/03/2011
Código do texto: T2836851
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