Soneto da aporia
Este é o soneto da aporia
em que professo crenças que não tenho
e simulo aquelas que inda venho
perseguindo em perene romaria.
Se é pecado praticar a apostasia
de celebrar do adultério as bodas,
pequei pelas hesitações todas
entre vestir e despir a fantasia,
alternando o culpado e o inocente.
Não se discute aqui – não é o foro –
as liturgias antigas de um descrente,
tampouco se é surdo e cego o choro,
ou o quanto o silêncio é eloquente
em algum errante verso oximoro.
Pequeno apêndice:
1. Aporia apresenta duas acepções: para a Filosofia significa dificuldade lógica aparentemente sem solução; para a Retórica significa dúvida simulada pelo orador para enfatizar determinado aspecto do discurso ou emprestar-lhe maior eloqüência.
2. Apostasia é o ato de apostatar, ou seja, abandonar uma doutrina, uma religião ou um partido por outro; deserção, abjuração.
3. Oximoro é a figura de estilo que consiste na reunião ou justaposição de duas palavras de aparência incongruente ou contraditória; paradoxo.