O retrato
O sol bate no novelo de lã
sobre a cesta (de vime) de costura.
Já são mais de onze dessa manhã
que é a descrição duma gravura:
a costureira larga agulha e linha
e sai da sala (levando a tesoura)
para ir cuidar da sopa na cozinha.
Ficam o gato e a criança loura.
De repente (nem sei se penso ou sinto)
o aroma da sopa é um labirinto
e a sala agora está deserta. Vê-de:
tudo é irreal; a mão já nada alcança,
era de louça o gato, e a criança
fez-se retrato no alto da parede.