IRMA, IRMÃ
Bem que te vi lá na praça, quando passavas cheia de graça.
Bem que te seguiu, meu olhar, até a igreja: bem-vinda sejas!
Bem que contei as contas do terço enlaçado em teu missal!
Bem que te ouvi suplicar: “livra-me, Senhor, de todo o mal”.
Te escondeste, sim, de mim, numa sala da escola paroquial.
Te esgueiraste, cautelosa, pressentindo meu laço premente.
Te portaste silenciosa, quando ensaiei o meu primeiro tento.
Te fiz, aí, pecaminosa: já minha sombra sombrejava teu seio.
Vi meu ombro roçar o teu e o fulgor de duas almas incender.
Vi nos teus olhos luzidios, fogosas pupilas em doce passeio.
Vi tua mão, trêmula, encardida de giz, acariciar belo buquê.
Vi, depois, que o remetente das flores também te escolheu.
Hoje, risonha e sedutora irmã, somente teu rosto meigo vejo.
Na freiria, Teu Senhor te amparou e te livrou de mil desejos.