Ardores

Pode ser que eu me acabe em desamores

Que na vida só conheça a desventura

Mas, há de haver, mesmo um resquício de ternura

Envolvendo esses meus tantos dissabores.

Pode até, quem sabe, alguma criatura,

Ter-me amado, sem notar os meus olhares,

Tão perdidos reparando outros lugares

Que deixou passar o amor em rua escura.

Eu não nego: desprezei a minha sorte

Jogando-me em abraços malfeitores

Que, a ilusão, sufocaram até a morte.

Hoje vago, sou uma alma presa em dores

Que só vê a solidão em toda parte

E a resmungar, se arrasta, em seus ardores...