SUPREMA DOR
Quando a suprema dor muito me aperta
Para que sinta mais o mal presente
Assim de erro tão grave me desperta,
Deixa-me, se queres, viver contente.
Se de todo, contudo, está o fado
Que mostra ser engano ou fingimento
E todo mal venha por cuidado
À luz do bem como um entendimento.
Um bem que, ainda sem te ver, reconheço
Que muito melhor é perder-se a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória.
Ditosa é, logo, a pena que padeço
Porque, enfim, nada perde quem perdida
A esperança já tem de minha história.