O ANJO ABANDONADO (Marco Aurelio Vieira) / VISÃO NOTURNA DE UM MENINO DE RUA (Oklima)
O ANJO ABANDONADO
Tu vagueias, menino, pela rua,
aos efeitos da droga alucinante,
teu esteio, um espelho d'alma nua
a sangrar, a queimar, dilacerante!
Mal suportas o escuro da cafua
em que abrigas, da chuva causticante
de violência, furores, surra crua,
tua vida sombria e lancinante.
E tu vês tanta gente afortunada,
com seus lares e amores. E tu, nada!
Nem mamãe, nem família. És o NÃO!
Tu te agrides, em tão brutais revoltas,
e ligeiro, te esgueiras das escoltas,
a arrombar-me a consciência. Anjo, perdão!
* Inspirado no belíssimo soneto “Predestinado”, do grande poeta Aarão Filho, republicado no Recanto das Letras em 31 de dezembro de 2010, sob código T2701160.
http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/2701160
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Obrigado, poeta Odir (Oklima), pela magnífica e honrosa interação:
VISÃO NOTURNA DE UM MENINO DE RUA
Das sombras de outras eras o que faço,
se vejo do zodíaco o mau signo
que deixa sepultar, com seu estigno,
inocências, pedaço por pedaço?
Como podes, criança, sobre o braço
deitar os sonhos teus, ter sonho digno,
se o chão da noite, fétido, maligno,
martiriza, inda mais, o teu cansaço?
És retrato do extremo desconforto,
o próprio Cristo a padecer no Horto,
um cordeiro de Deus entregue às feras.
Deitado na calçada, como morto,
és nau noturna a procurar um porto
pelas rotas perdidas das esperas!
JPessoa/PB