Dor de poeta
Numa pequena gaiola, arame e pinho,
dependurada num sombrio caramanchão,
senta em seu poleiro o canarinho
e trila o dia inteiro sua canção.
Amachuca-lhe à lembrança do seu ninho,
das macieiras em flor, na mansidão
e revoada de outros passarinhos
que só vêem liberdade, imensidão.
Muito embora a dor lhe dilacere e fira,
canta, até que o sol chegue a seu leito
deitando a luz entre os florais.
Assim o poeta; desgastando a lira
vai cantando até lhe desbordar o peito;
e quando sofre é quando canta mais.