A Aurora

A Aurora

Se um dia a carne fria do meu rosto

Amargurar teu ar porque me velas...

Não penses que tu morres no meu posto!

Embora o cinza traga embaçadelas

Malogro apenas eu luzido a velas.

E o que se estanca e vidra jaz exposto

É um solitário mudo. Pois, goelas

São goelas! Calada, de desgosto,

Tua garganta, um logro, não demora:

Tu clamas ao vestirem-me a mortalha,

Tu juras perdurar em minha alcova.

Mas raia o sol, tu vais... Meu corpo coalha...

E logo a voz te faz cantar na aurora,

Pois logo a vida é nova, e é longe a cova.