SONETO PARA UM DOENTE TERMINAL

Queria que o sol me queimasse,

que a chuva me molhasse,

que um vento passasse

e que me curasse.

Queria que a dor que me invade

deixasse saudade

e que fosse embora

deixando-me agora.

O que d'antes outrora

em mim foi saúde,

e agora amiúde,

de pronto me leva rumo ataúde.

A dor da doença,

que nunca me vença.

minh'alma deseja

e a morte me beija

sem ter parecença.

E a tarde que cai

parece pior,

aumenta a saudade

de um tempo passado

quando a alegria

de longe me via

ficando ao meu lado!

A febre noturna

que vem semelhante

ao sol causticante

parece minar

a minha cabeça

pr'a que eu logo esqueça de

assim me curar.

A dor desta dor

que desejo eu,

dormir sem sentir,

amigo morfeu

não quero partir!

Oh vida! me abrace!

eterna menina,

retire a morfina

e mate esta dor.

Mas já vou partindo

vou quase sorrindo,

o mundo bendito

aqui vou deixando.

Nos braços de Deus

que enlaçam-se aos meus

descanço-me agora, tranquila

sem dores, sem ais.

E a morte sem sorte

que deixa-me agora

então vai embora,

já não me acha mais.

greice
Enviado por greice em 21/01/2011
Código do texto: T2744085