Sumidade
Sumidade
Como posso querer tocar-te, querida,
sendo o que és, a deusa que mais venero,
e se, ao contato destas tão indignas mãos,
te profana o calor, os calos, o clamor?
Como ousaria te aprender, se entre tantas
lições que não sei, és a que sequer sonhei?
Como trazer-te ao coração, se de espinhos
te encobristes e entre farpas te escondestes?
Dai-me esta alegria: desaparece!
Desvaneça-te no ar para que eu possa,
em toda parte, aspirar-te. E se um dia
vieres a faltar, não tenhas medo ou pudor:
sopra teu vento frio sobre mim e leva
contigo, do jardim, as folhas mortas do amor.