A SEIVA DA PALAVRA [CCLIX]

Antes, ao léu, buscava ter às mãos a lira,

tão-logo me inclinava a tracejar um verso;

agora, singro em mar já muito mais diverso,

e a seiva da palavra, pois, é que me inspira.

Em sonidos silábicos meu ‘eu’ delira:

por força, vou atrás do icto mais imerso,

lá onde um musical dê cor ao universo,

sem uso do alaúde e harpa, nem da lira.

Para colher um longo e terno alexandrino*,

meu violão canoro, muito que afinado,

vai-me exigir à glote pôr gentis fonemas.

Mas gregos apetrechos não me vêm ao tino:

eu amo um pinho, tendo a ti, só a meu lado,

e tu bem desfolhada, em trovas e poemas.

Fort., 18/12/2010.

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(*) O alexandrino clássico pede icto

(forte) e obrigatório na sexta sílaba

do verso, que deverá ser sempre do-

decassílabo.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 18/12/2010
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