IMPORTUNO MAR
Tu, mar infindo - eu, pequeno grão d’areia.
Vens e retrais os teus cios pelas brumas brancas
Que sobre mim seu frenético gozo ondeia
E a um gosto amargo de sal inda me espancas.
Vejo-te dobrar nos longínquos horizontes
Em veredas bruscas às direções dos ventos
E quando chegas despejas aos brutamontes
Gigante fúria em indefesos grãos relentos.
Ó, vil mar! – Por que das pedras não te deleitas?
Tão meigo as alisa em embalos tão serenos!
Depois te fazes bruto e sobre mim te deitas.
Eu me definho, mas, por ti sempre me arrasto
E mais profundo vou ao peso ingrato teu
Por que de ti - importuno mar - não me afasto?