MAIS UM SONETO
Quando era criança, via meu pai compondo seus sonetos. Às vezes, contava as sílabas nos dedos e me explicou sobre rimas pobres, rimas ricas, sílabas femininas, etc.
Mas disse que o mais importante do soneto era a "chave de ouro". O soneto, por força, tinha que terminar com uma frase de efeito. Toda a estrutura - na sua concepção - deveria encaminhar o soneto para a tal chave de ouro.
Este soneto modesto, sem a precisão dos seus alexandrinos, eu dedico ao meu pai sonetista, embora inspirado em outro amor.
----------------------------------------------------------------
Eu canto o teu amor em versos brancos
que choram por palavras a verdade
de um sentimento antigo de saudade,
sem rima e sem cadência, versos francos,
que falam desse tempo de magia
em que tu foste meu, e da tristeza,
eterna companheira da beleza,
que só agora eu vejo, e que não via.
E é ela que me espreita no caminho
e ri daquele mundo de carinho,
sabendo que era vão nosso tesouro.
Então, eu canto assim, sonhos dispersos,
tão repetidos nos quatorze versos
deste soneto sem chave de ouro.