MAIS UM SONETO

Quando era criança, via meu pai compondo seus sonetos. Às vezes, contava as sílabas nos dedos e me explicou sobre rimas pobres, rimas ricas, sílabas femininas, etc.

Mas disse que o mais importante do soneto era a "chave de ouro". O soneto, por força, tinha que terminar com uma frase de efeito. Toda a estrutura - na sua concepção - deveria encaminhar o soneto para a tal chave de ouro.

Este soneto modesto, sem a precisão dos seus alexandrinos, eu dedico ao meu pai sonetista, embora inspirado em outro amor.

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Eu canto o teu amor em versos brancos

que choram por palavras a verdade

de um sentimento antigo de saudade,

sem rima e sem cadência, versos francos,

que falam desse tempo de magia

em que tu foste meu, e da tristeza,

eterna companheira da beleza,

que só agora eu vejo, e que não via.

E é ela que me espreita no caminho

e ri daquele mundo de carinho,

sabendo que era vão nosso tesouro.

Então, eu canto assim, sonhos dispersos,

tão repetidos nos quatorze versos

deste soneto sem chave de ouro.

Cliz Monteiro
Enviado por Cliz Monteiro em 28/10/2010
Reeditado em 28/10/2010
Código do texto: T2583391
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