AS AVOANTES* [CCL]

Entes esvoaçantes, seres tão pequenos,

aves de arribação que singram pelos ares;

elas, pombas-de-bando, em nuvens, aos milhares,

a tomar dos sertões os céus e mais terrenos.

Em revoadas, sempre, e por quaisquer lugares,

esses pássaros buscam por rincões amenos;

querem lagos e açudes, a desejos plenos,

água, que as sedes são os seus letais azares.

Vindo dessedentar-se onde existem águas,

as pobres avoantes caem nas ciladas,

e chumbo, à farta, faz chover, em tempestades.

A fim de, nas pombinhas, darem cabo às mágoas,

métodos outros há, também, nas vis caçadas,

mas todas vão virar petiscos nas cidades.

Fort., 08/10/2010.

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(*) As avoantes, ou pombas-de-bando,

ainda aves de arribação, são infelizes

personagens aladas das secas nordes -

tinas. Odiadas pelo camponês, enquan-

to bichos ávidos que secam poços de

de rios, açudes e lagoas já em fim de

suas águas, ao mesmo tempo brutal e

constantemente perseguidas pelos ca-

çadores ambiciosos de lucros. A elas,

as avoantes, minha homenagem como

partícipes das agruras das secas. Um

escritor cearense, Antônio Sales, dei-

xou romance brilhante, pouco conhe -

cido no sul do País, retratando a seca

e enfatizando a mania que o cearense

tem de emigrar, cujo título é "Aves de

arribação". Vale ser lido.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 08/10/2010
Reeditado em 09/10/2010
Código do texto: T2545402
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