Soneto a Ela
Houve um silêncio na madrugada gritante do coração
Que envenenou meu olhar com beleza e desejo:
Nas leves hastes de um navio à deriva, me levou órfão
Ao desconhecido vale das dores cultivas de arejo.
Que no sentir me foi frio como um cadáver nu à noite
De um inverno sem fim nem começo, chamado inferno!
E a que temo, se foi ela quem me arrancou a veste
E cobriu-me no que sou em efêmero por entregar-me ao veneno?
E o que sou não me coube esquecer, mas ela sabe
Que dentro desta cova ainda cabe
Aquele amor que trouxe ela a mim.
Pois se foi eu o enterrado aqui, faça-me companhia:
Dos presságios cubra-me, das dores sara-me
E da maldita? -ela, sobre mim escarre sempre em fronte minha.