QUE AMIGOS?
Que Semelhante ?
O homem tem dupla natureza
Pois serve a dois senhores;
Umas vezes a Deus reza,
Outras ao diabo faz favores.
Pelo que dos outros ouço dizer
Depreciativo e pouco abonatório
Posso bem avaliar e entender
O que de mim dirão de acusatório.
Tanto o que se sente diminuído
Como o que se julga superior
Ambos me querem ver remetido
Ao lugar mais baixo e inferior.
Mas o lugar que me pertence
Não está deles dependente
E nenhum deles me convence
A ser a seu gosto subserviente.
Se nada faço de reprovável
Pelo menos de modo consciente
Porque serei tão detestável
Na opinião de alguma gente?
Porque não digo o que lhes convém
Nem ao que fazem dou meu aval
Há alguns a quem só fiz bem
E como paga me querem mal.
Se me vêem mostram-se amigos
E sorriem de boca escancarada
Mas de costas tornam-se inimigos
E usam uma língua destravada.
A simpatia com que me presenteiam
De forma tão bem dissimulada
Não corresponde ao que semeiam
Na conversa que têm por privada
Sinto bem espetados os punhais,
Que nas costas frágeis me cravaram
Alguns amigos que julguei leais
Mas que por quase nada me trocaram.