QUE AMIGOS?

Que Semelhante ?

O homem tem dupla natureza

Pois serve a dois senhores;

Umas vezes a Deus reza,

Outras ao diabo faz favores.

Pelo que dos outros ouço dizer

Depreciativo e pouco abonatório

Posso bem avaliar e entender

O que de mim dirão de acusatório.

Tanto o que se sente diminuído

Como o que se julga superior

Ambos me querem ver remetido

Ao lugar mais baixo e inferior.

Mas o lugar que me pertence

Não está deles dependente

E nenhum deles me convence

A ser a seu gosto subserviente.

Se nada faço de reprovável

Pelo menos de modo consciente

Porque serei tão detestável

Na opinião de alguma gente?

Porque não digo o que lhes convém

Nem ao que fazem dou meu aval

Há alguns a quem só fiz bem

E como paga me querem mal.

Se me vêem mostram-se amigos

E sorriem de boca escancarada

Mas de costas tornam-se inimigos

E usam uma língua destravada.

A simpatia com que me presenteiam

De forma tão bem dissimulada

Não corresponde ao que semeiam

Na conversa que têm por privada

Sinto bem espetados os punhais,

Que nas costas frágeis me cravaram

Alguns amigos que julguei leais

Mas que por quase nada me trocaram.

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 27/09/2006
Código do texto: T250761