Terça-feira.
E ele veio correndo, tropeçando
naquela noite fria de terça-feira.
Tremia tanto parecia estar morrendo de frio
naquela roupa surrada, ou tremia de fome.
Embaixo daquela grossa camada,
há um homem, um ser humano,
marcado pela vida, abandonado pela sorte.
A rua é sua casa e seus amigos outros abandonados.
Juntou-se ao grupo, orou.
Agradeceu a alguém que ele acredita.
Pegou seu prato de sopa.
Sorriu, saiu cambaleante,
devorou tudo e parecia querer mais.
Agradeceu e na próxima terça-feira se Deus quiser ele estará lá!
"E quantos não retornaram e tantos outros chegaram."
O BICHO
VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira)