ZÍNGARA
Filha, não chores! Lágrima? Não adianta.
Nem te magoes língua hostil, mexeriqueira!
Foi Joana D’arc alçada aos cânones de santa
“Depois de ser chamada herege e feiticeira”!
Hoje te chama de Cigana, a corja infanta
Na aloprada algazarra de final de feira!
Se a caravana passa e prega e se agiganta,
Que importa o cão ladrar, bravio, à noite inteira?
A verdadeira Zíngara é a que, no entulho
Semeia rosas e no peito muitas dores,
Tendo no olhar o mais imponente orgulho.
Apanha um ramalhete de mimosas flores
E, em cada mão que lhe atirar um pedregulho
Coloca algumas rosas de carinho e amores!
Salé, 098/12/80