INGRATIDÃO

Uma vez, quando eu era ainda bem pequeno

Observei em um galho um lindo beija-flor

Sugar o mel das pétalas, num beijo ameno

Que, ansioso desejei também beijar a flor!

Transpus de um salto aquele aspérrimo terreno

Para saciar o ingênuo desejo de amor.

Eu estava descalço – e senti o veneno

De espinhos no meu pé... Sofri horrível dor!

E até hoje, ficou incrustado em minh’alma

Aquele irremediável mal, aquele trauma

Da mais aguda e insípida decepção!

Talvez seja por isso – quando me aproximo

De alguém para um carinho ou para um doce mimo,

Sinto primeiro, o espinho vil da ingratidão!

Salé, 20/12/80