SONETO DA IGNORÂNCIA
Se viesse deles o espelho da vivência,
E do seu reflexo mirasse os valores,
Não os da esperteza como suma excelência,
Mas da láurea fonte que verte os penhores.
Que fluísse o saber na caudalosa foz,
Ímpio e saciável como água pura,
Viesse dos versos a punição do algoz
Que impostor, o saber destrata e desfigura.
Só pelas mortes dão-se às suas reverências,
Erguem estátuas, pungem-nos de coerências,
Pobres senhores do poder e da incultura!
Findada a vida, qual sabor terá o bardo?
O que lhe apraz sob a terra, senão um fardo
Que alimenta os vermes da sua sepultura?