SONETO DA IGNORÂNCIA

Se viesse deles o espelho da vivência,

E do seu reflexo mirasse os valores,

Não os da esperteza como suma excelência,

Mas da láurea fonte que verte os penhores.

Que fluísse o saber na caudalosa foz,

Ímpio e saciável como água pura,

Viesse dos versos a punição do algoz

Que impostor, o saber destrata e desfigura.

Só pelas mortes dão-se às suas reverências,

Erguem estátuas, pungem-nos de coerências,

Pobres senhores do poder e da incultura!

Findada a vida, qual sabor terá o bardo?

O que lhe apraz sob a terra, senão um fardo

Que alimenta os vermes da sua sepultura?

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 17/08/2010
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