Soneto Inescrito

Os versos das minhas mãos, descobrindo o véu
da tua nudez, seriam mil vezes preferíveis
a todos estes que componho no papel -
de letras grandes, mas aos teus olhos ilegíveis.

Não conta o meu poema rabiscado ao léu,
do teu corpo em mim guardado, e por mais sensíveis
que sejam os versos, será pobre e infiel
relator dos meus desejos impreteríveis.

O que esse cantar da ilusão jamais traduz,
surdo à voz do desejo que ecoa rouca,
é tudo isso que no papel nunca compus:

O gosto de um beijo em tua ansiosa boca,
a sensação deliciosa dos teus seios nus,
nosso murmurar devasso em luxúria louca!





Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 14/08/2010
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T2437231
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