Alma vagão nª2
É passado aqui; ao abrirem-se as janelas
nos areja uma saudade de partida;
ao soturno silêncio o sino se congela
e num apito a fumaça jorra despedida.
Fortunas sobejaram nas linhas paralelas,
enganos cravaram-se à riga¹ estremecida
e olhos marejados se alongaram nas procelas
deixando atrás o negro fumo, alma sofrida.
Mas o que importa agora? O amor ressoa
no Vagão e um novo verso já promete;
passageiros sem bilhete buscam nossa porta!
Embriaguemo-nos de Camões, Bilac, Pessoa,
deixemos vir a nós as “wagonettes²”;
que a declamação do Wilson³ nos exorta!!
1.Riga: madeira nobre importada de Riga (Rússia) usada para fixar os trihos devido à sua durabilidade e rigidez.
2. Wagonettes: Palavra francesa, em português vagoneta; espécie de carro usado na manutenção dos trilhos. Usei o termo para as poetisas que frequentam o Vagão Literário.
3. Wilson Fonseca: Poeta assíduo ao Vagão Literário, ótimo declamador.