DO EXISTIR TERRENO
"Se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti".
-- Nietzsche --
Oh, corpo mortal! Que a morte venha beijar tua pálida face
E, nesse ósculo fugidio, traga a sorte do sabor do frio,
Verminoso arrepio, podridão de células em desenlace
No embrace macio da escuridão; e a plena sensação do vazio.
Oh, matéria humana! Ouça! O oco da terra grita, reclama
O direito da lousa em devorar-lhe a carne, beber-lhe o sangue,
Forrar com teus ossos, os profundos fossos, telúrica cama;
Sorver o teu plasma, fundir solo e alma, e torná-los mangue.
Não vês que tua pátria é o pó, a larva e o negrume do abismo?
Por que então insistes nessa falsa vida, se ela não existe?
Acaso esquecestes a marca de enxofre de teu idealismo?
Entrega-te a curva de aço da foice, mecanismo universal,
Pois há um vulto só, triste, cujo dedo em riste, não desiste,
E aguarda o consentimento cabal para o inevitável final.
>>KCOS<<