Saudações fraternas aos meus encorajadores, amigos do recanto!
E eis que republico este, que abaixo deste esta!
Não sei quantas almas tenho
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Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
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Soneto a Fernando pessoa
Poeta! Doce, são tuas palavras, ricas e melodiosas,
Tênues, são teus sonhos e tuas visões; frágil teu coração!
Que estremece a cada cisão, do verso amargo deste teu mesmo coração;
Falante de coisas vãs ou das coisas ditosas!
Discursa tua boca de véspera, que mesmo ferida, tem ciosas
Palavras a serem bem ditas ou mal ditas,
E não é sem razão que quando choras, tuas lagrimas são preciosas
Estradas por onde discorre tuas lembranças interditas!
Poeta; na solidão do teu céu um anjo te feriu;
Tua mente irrompida pelo anjo torto esta aberta e sem solução,
Afirmo-te; é ingrata a tua profissão!
Dirás das coisas e de coisas, que passará a distância de quem... Ouviu e sorriu!
E mesmo que não confesses; ainda assim, por estes, terás gratidão;
E mesmo que sintas, irás sonetear, afirmando que nada sentiu!