Dois sonetos de amor
I
Não quero mais o teu beijo
Que tanto prazer me trouxe
Que é úmido, inquieto e doce,
Mas mirrou o leite do meu seio.
É verdade que ainda te desejo
E a tua presença arde em meu ser,
Mas não quero o que dói e dá prazer;
Que ora é inteiro, ora é meio .
Hoje, por uma razão qualquer,
Só quero o que convém e apraz
Meu espírito de mulher,
Que cansado de sofrer
Prefere a calma de "amar" em paz
Que o torpor de tanto prazer.
II
Pensas que a dor
Não pode habitar um ser
Que experimenta o amor
E a delícia do prazer.
Por isso, ao revés,
Buscas a eterna felicidade
Alhures, sem saber que és
A diversa realidade,
Porém ao "afastar" a dor,
Que evitas e que te faz sofrer,
Esqueces-te que a inquietude
Do ser é a sua virtude,
e ao negares a dor do prazer
Demites também o amor.