Soneto sem graça

Resposta ao “Poema com graça”

de J.P. Nobre

Enquanto eu for tu'amada, tua rainha,

não deixarei que tua barbaça crie mofo;

cuidarei dessa carcaça tão magrinha,

com os próprios lábios untarei teus tofos.

Se em teus versos sou pra ti o quero-quero,

nos meus sonhos és pra mim o beija-flor;

se nos líros da charneca eu te espero,

nas verbenas corro atrás do teu amor.

Se a canície já te achega, pouco importa,

seremos eu e tu, então velhinhos

bem gordos, e isso me conforta.

Dois giestais por entre os rosmaninhos

deixando a graça entrar por nossa porta;

viveremos sempre assim, na lipemia dos carinhos.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 05/09/2006
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