Soneto sem graça
Resposta ao “Poema com graça”
de J.P. Nobre
Enquanto eu for tu'amada, tua rainha,
não deixarei que tua barbaça crie mofo;
cuidarei dessa carcaça tão magrinha,
com os próprios lábios untarei teus tofos.
Se em teus versos sou pra ti o quero-quero,
nos meus sonhos és pra mim o beija-flor;
se nos líros da charneca eu te espero,
nas verbenas corro atrás do teu amor.
Se a canície já te achega, pouco importa,
seremos eu e tu, então velhinhos
bem gordos, e isso me conforta.
Dois giestais por entre os rosmaninhos
deixando a graça entrar por nossa porta;
viveremos sempre assim, na lipemia dos carinhos.