Passarinhos
Ainda que a tua face eu não soubesse
Não soubesse tuas mãos a me negar
Ainda que o vento apagasse minha prece
Vários mundos eu daria para ver o teu olhar
Teus olhos são dois pequenos passarinhos
Voam, voam, cruzam céus, pra onde vão?
Ninguém sabe, nem o vento, seus caminhos
E se os teus olhos forem o céu pra onde irão?
Sendo teus olhos dois pequenos passarinhos
Hão de voar por muitas terras, muitos mares
Voam os dois, lado a lado, e tão sozinhos
Somente o céu e o vento são seus pares
Esvoaçam sós como a aurora e a escuridão
Voam tão sós quanto pode ser só a solidão
Amor, teus olhos plenos de mar e de sol são pássaros a voar em um céu limítrofe entre o que sinto e os meus olhos cegos que vêem tateando o gosto de te amar. Ri, amor, da minha noite, pois meus olhos já não podem mais sorrir. Ri e diz que me ama pois em teu seio vem brincar a flor azul. E tão expressivos foram os teus olhos, enquanto a flor se anunciava, que para perceber-me nem mirar-me preciso mais. É inverno e as águas tenras que enchem os mares só me trazem o teu olhar. Fito o azul em um avoar que se aproxima e já não sei se é o mar, se é um céu, se são teus olhos. Amor, deixa eu viver neste azul, deixa eu sonhar este azul e, quando a noite descer em lágrimas de um céu meigo e menino, deixa eu dormir no teu olhar onde navega o sono, pensa o sonho, dorme o mar, sonha a idéia de um dia só te amar e te amar e te amar e te amar...