SOU
Sou uma ave ferida, sem asas para voar,
Sou um fruto sem semente - o grão
Sou haste inflexível, um desejo inatingido,
Que se faz ausente, sem poder germinar.
Sou como a terra infecunda,
Sou como a brisa no estio
Quando o silêncio a inunda,
Sou o eco da angústia, que guarda o vazio.
Sou barco que vai, nas ondas me agito
Se me arrebento de encontro aos rochedos,
Não sei se derivo, se parto, se fico...
Se solto lamentos, se calo meus medos...
Mil vezes ferida, suspensa no ar...
Sou frágil,
Sou pura...
Sou fruta madura,
Nos galhos da vida, mil vezes colhida
Sou corda insegura a me sustentar.
Sou como o tempo que passa,
Dizendo SIM para a vida
Sou a palavra escapada,
De um pássaro em revoada
Numa boca escancarada.
MYRAMAR ROCHA - 20/06/2010