O FIEL ESCUDEIRO

Quem parte, deixa sempre alguém que fica

aos pedaços que a tristeza devora.

Quem parte, parte sempre sem dia ou hora

com uma urgência que nem Deus explica.

Quem parte, deixa uma dor que amplifica

e preenche todo o espaço sem demora.

Quem parte, não sabe o que significa

o absurdo vazio de quem parte embora.

E tu que partiste bom companheiro,

levou contigo a dourada amizade

deixando-me à luz do antigo candeeiro...

Fica em mim esta marca de lealdade

no mais fiel dos versos - velho escudeiro:

Uiva a alma de magnífica saudade!

Hoje eu perdi um grande e inestimável amigo.

Um amigo no mais profundo e legítimo sentido que a palavra traduz.

O velho Vitório, um fidelíssimo cão pastor alemão de quase onze anos, se foi.

Inacreditável como um animal pode nos causar tamanha dor ao partir.

É como um parente próximo e às vezes, melhor que muitos deles.

Eram três horas da tarde quando eu cheguei do trabalho.

Enfraquecido pela doença, mesmo assim, lá estava ele, deitado na varanda como sempre esteve todas as vezes que retornei para casa.

Ainda pude acompanhar seu olhar, que me perseguiu até que eu entrasse dentro de casa.

Ao voltar para dar alimento e remédio, percebi a imensa dignidade e a absurda demonstração de bravura e lealdade: Ele havia resistido até aquele instante para me dizer adeus.

Obrigado por ter existido meu amigo. Obrigado por ter me concedido a oportunidade de ter você. Obrigado sempre por ter me dado a certeza de que você foi, pela vida inteira, muito, mas infinitamente muito melhor do que várias das pessoas que conheci.