São Félix

O ônibus começa a descer a serra e eu de olhos fechados , aliás ,há mais de 3 quartos de hora que eu não abro os olhos. Eu conheço de cor cada pedaço daquela estrada , cada subida , cada curva ; curva à direita , curva à esquerda , subiu a serra , desceu a serra , pegou uma reta ,tudo na minha cabeça. As vezes o povo de uma fazenda grita para o povo que está dentro , e eu de olhos fechados , sabendo exatamente onde estamos. Pegou uma reta e logo começa uma subida ,o ônibus subindo,lotado , ele chora , o motorista acelera, uma subida bem grande e sofrida, as marchas vão diminuindo e o bicho geme , e eu de olhos fechados já sei, estamos chegando , o povo que está de pé no ônibus lotado se alvoroça . Começa a descida o bicho se acalma e vai na banguela , é só alegria e a poeira comendo , à esquerda a fazenda dos Abrão , vira a direita e buzina , a noite chegando , o povo na rua , a poeira subindo , a rua estreitinha e o povo acenando , as casas lá embaixo. Passou pela escola onde eu estudei , à direita a farmácia à esquerda a igreja , o ônibus parando e meus olhos se abrindo. Pela janela eu vejo um senhor bem gordinho , com uma bela careca é ele, está me aguardando , eu não avisei que vinha , mas ele sabia , sabia que eu estava chegando . Me viu na janela , seus olhos brilhavam de alegria e emoção , eu desço com a mochila nas costa , ele me abraça , a casa é ao lado e eu entro , cheiro de comida boa e lá dentro ele grita :

- Maria ,meu neto chegou !

José Américo
Enviado por José Américo em 09/06/2010
Código do texto: T2308653
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