Não trema

Eu pensei escrever um bel poema

e esquentei, com rigor, a pena e o punho.

Um rabisco esbocei no meu rascunho

e não pude encontrar o exato tema.

Aticei a memória, olhei fonema,

estudei a gramática e no cunho

agucei minha gráfica. Era junho

e eu pensei em aposentar o trema.

Aguentei com frequência a vã memória,

em sanguínea aversão a esquecimento,

e moldei, inconsequente, o tal soneto.

O sequestro da língua fez história

e, no fim, com eloquente atrevimento,

eu tremi como treme um vil graveto.

01/06/2010