INGRATIDÃO

Uma vez quando eu ainda era bem pequeno

Observei num galho, um lindo beija-flor,

Sugar o mel da flor num beijo doce e ameno,

Que, ansioso, desejei também beijar a flor!

Transpus de um salto aquele aspérrimo terreno

Para saciar o ingênuo desejo de amor.

Eu estava descalço – e senti o veneno

De espinhos no meu pé... Sofri terrível dor!

E até hoje ficou incrustado em minh´alma

Aquele irremediável mal, aquele trauma,

Da mais aguda e insípida decepção!

Talvez seja por isso – quando me aproximo

De alguém para um carinho ou para um doce mimo,

Sinto primeiro o espinho vil da ingratidão