O DIA EM QUE O CORVO MORREU

(…)

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.

(…)

“Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!

Diz-me qual o teu nome lá nas terras infernais”.

Disse o corvo: “Nunca mais”.

In O CORVO de Edgar Allan Poe,

na tradução de Fernando Pessoa.

***

Naquele dia, em negra calmaria,

Arguto caçador – frio demais –

Extravasou instintos ancestrais

E de chumbo pintou a luz do dia!...

Nem sequer tua lúgubre canção,

- Aquela que produz sons infernais –

Poderemos agora ouvir jamais

Por causa da cruel detonação!...

Partiste sem dizer, o “Nunca mais”

Tal como já disseras tantos mais! …

Foge a vida sem ter contemplação…

E tu, tão negro como a própria morte,

Corvo, que não previste a tua sorte,

Assim foste sem ter nosso perdão!