Reflexões (8)

Dialogando com Augusto dos Anjos

 
Se a boca que me escarra é a mesma que me beija,
o que fazer, nem sei, por esta vida afora,
se o meu sonhar, sentir em nada mais se ancora,
e, se no  peito, a dor, o meu amor craveja...
 
Se a mão que toca e afaga é a mesma que apedreja
o que fazer, nem sei, se fico ou vou-me embora,
se em nada mais vou crer, igual julguei outrora
se a dúvida cruel, o fel em mim despeja...
 
Se  a lama - o meu porvir - persiste à minha espera,
e o amor se esvai por ser somente pó, quimera
vivê-lo quero, sim, enquanto não se aborte...
 
Que tudo fosse paz, confesso, bem quisera,
porém, se a ingratidão é meu devir e sorte,
desejo, então, viver,  no hiato vida-morte.
 
 
Brasília, 18 de Maio de 2010.
Sonetos Diversos,  107
Ciclos, pg. 106

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 18/05/2010
Reeditado em 14/09/2020
Código do texto: T2264140
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