A VERGONHA [CCVI]
Não precisas ser bela nem grã-fina,
nem portares nobreza de família;
o que tens de mais lindo, por mobília,
vem da tua vergonha cristalina.
A vergonha desfaz qualquer quizília
e descobre, num charco, a turmalina;
caso tenhas perfil de bailarina,
pois melhor – já por ti farei vigília.
Mas, em tempo: beleza é transitória.
Eu só vejo o que fica da vergonha;
esta, sim, permanece; é meritória.
Em ti, não só vislumbro a juventude.
Posso até, com prazer, te dar cegonha
– és nobre já, de alma, e tens virtude.
Fort., 18/05/2010.