Tive Sono
N'outra vez, vivi um rei fora do trono,
E adentrei com mais bravura nesta onda,
Cuja crista é o denodo que me ronda,
E sua base, a ata que me faz colono.
Soçobrado em abrupto abandono,
Percebo a reta que se fez redonda;
Afogo, sóbrio, o medo que me sonda,
Pois que acordei -- tarde, eu sei: tive sono.
Caí na face oculta d'outra face,
Mas acordei, e meu olhar renasce
Do colírio que deste sem querer...
Pingaste gotas de um amor fugaz,
Que à minha vista não apetecem mais,
Num misto fúnebre de ira e prazer.