À Tardinha...

O sol da minha rua passa fora o dia,

a trabalhar, certamente, num lugar banal.

Esse sol é uma mulher, morena, esguia,

que transformei no meu verso e no ideal.

Esse sol vai sempre só. E é só que vem,

sempre regressa, sempre sem ninguém,

o que me deixa pensar que, como eu,

um grande amor também ela esqueceu.

E quando, ao entardecer, a minha rua

vai na penumbra do ocaso mergulhando

e desfocando o contorno de quem passa,

eu reconheço de longe a silhueta tua

que caminha apressada, e ignorando

quem tanto te quer bem, junto à vidraça.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 06/05/2010
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