Soneto
Quero agora morrer tuberculoso,
Inda que feito os Grandes me não vale:
Porquanto a pena às deles desiguale...
Porquanto me falta ver-me glorioso!
Sinto já desalmado o vaporoso
Peito inerme; que por mim ele fale,
Cante, suspire, chore, ria, inale
Tudo o que me faz vil e furioso,
Se dado o instante da nua verdade!
Se dado o instante da verdade nua,
Exploda-me no peito a tola idade
Que me tanto desengano extenua;
Esqueça-me o Fado sua piedade,
Porquanto perdeu-me já a fé sua!