Sonetos
Tu
Sinto-me como se não a tivesse olhado e visto,
Ao voltar lembro-me que fiquei claro evidente,
Porém o tempo fez do momento um instante instinto,
Uma saudade, nostalgia em tudo que se sente.
Tudo que se sentia caminhava com força total e me consumia,
Sentado em meio há tantos rostos, almas e corações,
Era a falta da tua que me transformava e me envolvia,
Rememorando-me de nossas semelhanças e atuações.
De modo tão simples que talvez nunca imaginária,
Finalmente descubro que é o seu todo me faz voltar,
E tu és o que busco e somente em sonho a encontraria,
É na tua alma que penso, sinto, estive e pareci não estar,
Entoei palavras que há muito tempo não proferia,
E ouvia tua voz melíflua que me fez de novo sonhar.
A Meretriz que em Sonho Amei
Ao enaltecer do qual dar-lhe o vinho oneroso.
Importa-lhe a veste de veludo e branda.
Valoriza-se o qual lhe for mais generoso.
Feita de drupa pelo estranho que lhe manda.
Penetra-se com o valor que é inatingível.
Vende-se por fora para que lhe adentram.
Faz o que lhe é destinado sendo afável.
Não há aqueles que a encontram.
Existe uma essência funda e hermética,
Que não mais é vista e reconhecida.
A todos e a ela é pura mentira estética.
Vive-se dos outros e em ti falecida,
Torna-se de carne e alma elíptica.
E sobrevive-se somente sendo pérfida.
Dolo
Solene face fúnebre,
De sorriso de lume.
Levaste-me ao lúgubre
Sem odor ou perfume,
Como elipse soturna
De olhos de aparo,
Teus lábios de fortuna
Deram-me um escarro.
Mostrou-me a vida
E todo seu vigor,
Fez-se moribunda.
Serviu-me de ludibriador
E ainda tão funda,
Sinto-a somente em dor.