Sonetos
A semelhança
Em um tempo ambicionei ser aquilo que tu foste um dia,
Assemelhei-me tanto a ti que imediatamente odeio-me.
Aflorei-me como não era, derramei-me no que não fui, mentia.
Permaneci inerte em tuas utopias egocêntricas detestáveis, receio-me.
De ti tenho ódio e lamúria, por sonho desejo o teu fim.
A ânsia de ouvi-la mesmo que em meus pensamentos distantes.
Devora-me quando me procuro, em uma foto, em um espelho, em min,
E é impossível continuar nestas perenes lutas constantes.
Acabei-me por entender que não há desando nesta vida,
Cada passo dado e fincado foi quando a decisão fez-se inativa.
Confesse-se em minha frente com teu ar prepotente de partida,
E faça um favor a ambos, busque a parte em ti viva,
Intitulada nós e a mate, enterre-a em uma cova sem saída.
Antes que esta falsa sensação em mim volte e reviva.
Desejo-te
Faz-me de forma intensiva desejá-la,
Como da primeira vez que acreditei,
Sem que seja a última que o farei,
Assim como o sonho que é almejá-la.
Em teus lábios irei realizá-la,
Em um profundo dia lhe confiarei,
E não é isto apenas que esperei,
Estas palavras sonhadas, ei de prová-la.
Irá além de um simples entoá-la,
E mesmo que ante ti as ansiei,
Nunca, jamais irei desapontá-la.
Mentirei pelo teu amor que cobicei,
E pela vida que vivo a amá-la,
E se não mais ver-te, então morrerei.
Amar-te-ei
A alma despedaçou ao perder-te,
Estendendo o negrume de asas nebulosas
De ilusões perenes, que me são acenosas,
Ausentando-me ainda de ter-te.
Se lá junto à dor não me é possível ver-te,
Ao longe inda há memórias gloriosas,
Por onde jamais dantes andam receosas,
E que tão tarde suplantam o esquecer-te.
Dias empós noites ao ausentá-la,
A melancolia veio rezingar e ficou.
Outrora antes um cessar de tê-la,
Por ventura cedo o olvidar a levou
E de tudo foi um lutuoso deixar de senti-la,
Que veeiro, todavia dissipou e minh’alma matou.